Nunca pensei que uma fila de banheiro me renderia algo além de uma boa dose de impaciência. Enquanto espero ali, sei que perco meia dúzia de gargalhadas na mesa e meu copo perde a temperatura ideal. Sabe aquela sensação que tínhamos nos bancos da universidade quando a melhor aula do melhor professor foi justamente aquela que você perdeu? E o show daquela banda? Você não foi, mas eles arrasaram! Então, é essa a sensação que tinha ao deixar a mesa para enfrentar incontáveis minutos na fila. Isso antes, porque agora, o banheiro feminino, de preferência bem cheio, virou para mim objeto de pesquisa.
O WC me reservaria reflexões ímpares. Assistiria ali a dança da fêmea tentando intimidar a própria espécie. Questiono: atrairia a outra espécie assim? Quero muito pensar que não! O espelho inflava egos narcisistas, espremia quem almejava apenas cumprir ali um ritual fisiológico. Gargalhadas...muitas! Dos outros, do nada,por nada. Menos pelo mais engraçado: si mesmas.
A fila não andava e o que antes era um tormento ganhava um estranho e íntimo desejo de que o tempo durasse um pouco mais. Não muito, mas o suficiente para responder minhas indagações. Observava atentamente cada movimento, experimentando criar sentido para eles. A roupa apertada moldava incomodamente a silhueta, desenhava contornos cujo padrão nem sempre considera atraentes. Os sapatos, maltratavam os pés como em um ritual do oriente que aleija com o intuito de embelezar.
Como sofrem algumas mulheres que se sujeitam ao molde! E como são iguais! Iguais nas cores, nas texturas, nos sabores das frutas eleitas para representá-las. Iguais no que vestem, no que falam, no que ouvem e na maneira como andam. Eu dividia naquela pequena multidão com outras duas ou três mulheres a máxima “peixe fora d’água”. Não sabíamos nos comportar como exigia a situação. Estávamos despidas das ferramentas necessárias para completar a cena. Também, nunca foi esse o nosso desejo. Falo por elas, embora não as conheça, pelo olhar atônito trocado no silêncio. Éramos desgarradas do rebanho afoito. Tínhamos, talvez, a serenidade de poder ser “gauche na vida” sem a alienação absurda em relação ao que é essencialmente belo.
A verdadeira vaidade não acontece só porque existe o olhar do outro. Existe porque é um carinho, um cuidado seu com você mesmo e isso nem sempre é explícito e muito menos depende de holofotes. O olhar do outro será verdadeiramente seu se você for naturalmente de verdade e isso inclui olheiras e cicatrizes.
Chega finalmente minha vez. No cômodo de decoração duvidosa cumpro o desfecho de uma história distante da minha realidade. Saio sem me despedir. De alma leve volto à mesa. Nela, não disputamos espelhos, nem moldes, nem egos. Somos felizes. Simples assim!
Ludimila Beviláqua F. Terra
domingo, 11 de setembro de 2011
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